Porto Alegre, quinta, 09 de maio de 2024
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RS: Jairo Jorge deve retornar dia 27 ao comando de Canoas. Ele acredita que MP não pedirá à justiça renovação do afastamento e anuncia 'Decálogo' para atuação dos gestores municipais; por Felipe Vieira

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Jairo Jorge

 

 

 

O prefeito de Canoas, Jairo Jorge foi afastado no final de março, após a Operação Copa Livre, realizada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS). Ao longo desses quase 180 dias longe do Paço Municipal, Jairo procurou respeitar as determinações das medidas cautelares. Após o cumprimento dos seis meses, ele está confiante num desfecho positivo para o caso. “Mantive silêncio antes, em sinal de respeito ao Judiciário. Os três desembargadores da 4ª Câmara que cuidam do processo são idôneos, muito respeitados, excelentes juízes e tenho muita confiança na decisão que irão tomar”, desabafou o prefeito afastado, nos disse durante entrevista a BandNews FM/Porto Alegre. Sobre o tempo do afastamento no cargo, apesar de resignado com a decisão, o prefeito entende que o prazo de 180 é muito longo, um oitavo do mandato. “Eu cumpri rigorosamente todas as medidas cautelares impostas, fui bastante restritivo, me afastei da administração e até nem estou fazendo campanha eleitoral. Me afastei até do partido”.

Iniciado o afastamento em 31 de março, seu retorno apenas não ocorrerá, caso o MP solicite e a Justiça conceda uma prorrogação do prazo. A denúncia tem a ver com supostas irregularidades na contratação dos serviços de limpeza, copa e de saúde. Incluindo o prefeito, outras 16 pessoas foram denunciadas por crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e peculato. Segundo Jairo Jorge, a própria investigação ajudou a identificar as pessoas que estavam interessadas em agir de forma não muito clara, com interesses escusos. “Olhar essas 10 mil páginas do processo me permitiu entender quais as janelas que as empresas usaram. E são essas mudanças que vamos fazer”. Ele inclusive anunciou que está preparando um “Decálogo” para ser apresentado aos gestores da prefeitura, com a finalidade de evitar casos semelhantes no futuro, “Serão 10 novas regras e procedimentos para blindar a Prefeitura de interferências, dar o máximo de transparência e garantir o monitoramento de todos os agentes públicos para evitar erros ou falhas”.

Não há mais testemunhas para serem ouvidas no processo. O que restaria de pendência no processo, na visão do MP, seria a eventual possibilidade dele, na condição de prefeito, acessar dados do Banco Central. “Como prefeito, não tenho como interferir no Banco Central, nem o presidente da República pode interferir, porque a instituição é independente”. Além disso, o último elemento seria uma reincidência, a respeito da qual Jairo Jorge está tranquilo, porque sua conduta como homem público, reitera, nunca teve nenhuma mácula. “Tenho uma longa trajetória política e nenhum problema por haver agido com dolo, ter sido corrupto ou praticado algum desvio de conduta. Houve apenas uma licitação, em mais de 200 que havíamos feito, em que houve problema nessa minha mais recente passagem pela prefeitura. E por isso eu tenho esperança, sim, de retornar ao cargo no dia 27”.

REVISOR DO PROCESSO NÃO VÊ NECESSIDADE DE MANTER O AFASTAMENTO

Antes da entrevista li manifestações do Ministério Público e Judiciário sobre o caso. O revisor do processo no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, desembargador Rogério Gesta Leal, escreve nos autos não ver a necessidade de manter o prefeito afastado. No Tribunal de Justiça, não há elementos que comprovem a participação de Jairo Jorge, em algum esquema de corrupção. Um dos principais pontos da investigação, o suposto dinheiro de propina recebido por ele em São Paulo, “entregue por empresários em Burueri”, Jairo Jorge demonstrou que houve um grande equívoco do MP, porque naquele dia ele estava em agendas públicas na cidade de Canoas, inclusive na presença de outras autoridades. “Restou comprovado que eu nem estava em São Paulo na data. Bastava terem analisado os dados do meu celular, e iriam saber que estava em Canoas”, ressalva Jairo Jorge.

Em duas datas, segundo os denunciantes, o prefeito esteva em São Paulo para receber propina. Apesar disso, em duas oportunidades, ele já demonstrou que, em ambos os dias, sequer deixou a cidade que administra. “Como é que vou recuperar o prejuízo que esse processo causa a minha imagem pública?”, desabafou Jairo Jorge. Na denúncia mais recente, apresentada em dia 5 de julho, o MP mudou a versão e admitiu que Jairo Jorge não esteve em São Paulo; no entanto, passou a sustentar a tese da presença de um “suposto emissário”. Apesar disso, cometeu um novo erro ao afirmar que, no dia 10 de fevereiro de 2021, o prefeito Jairo Jorge esteve em São Paulo e realizou reunião para adulterar uma licitação. Mais uma vez, os técnicos do MP não checaram as redes sociais do prefeito, onde poderiam identificar que Jairo Jorge teve reunião da GRANPAL, audiência com um Secretário de Estado, duas reuniões com as direções dos hospitais da cidade e um compromisso pessoal muito importante: a primeira dose da vacina de seu pai com 95 anos e sua mãe com 92 anos.

Procurado pela BandNews FM, o Ministério Público do Rio Grande do Sul disse que não irá se pronunciar sobre quaisquer declarações feitas fora dos autos do processo. A atuação do MPRS, como sempre, se dá rigorosamente dentro do princípio da legalidade e nos momentos processuais adequados.