Jair Bolsonaro jamais se acanhou em mostrar o desejo de ser tratado como um político inatingível. Não por coincidência, sua cruzada contra o STF começou justamente quando a Corte abriu as primeiras investigações contra ele e familiares e apoiadores. Mas, mesmo em picos de fúria, o presidente nunca conseguiu fazer deslanchar alguma medida concreta contra o tribunal. Isso porque, para qualquer iniciativa incisiva, como o impeachment de ministros, o que seria inédito desde a redemocratização, ele precisaria de pelo menos 41 votos no Senado, e o capitão sempre andou entre tropeços no Salão Azul, onde conta com uma base frágil e acanhada.
O cenário será diferente a partir de 2023. Em um tsunami conservador, 20 dos 27 senadores eleitos demonstram simpatia por Bolsonaro — alguns, aliás, são notáveis expoentes da extrema direita, como Magno Malta e Damares Alves. Unidos aos congressistas que já ocupam assentos e têm mais quatro anos pela frente, eles poderão garantir maioria ao presidente na Casa. Se reconduzido ao Planalto, portanto, o capitão estará (quase) pronto para colocar em prática o plano de vingança contra o Supremo que alardeia há meses.
Damares, futura representante do DF no Senado e aliada de primeira hora, traduz sem meias palavras o sentimento do bolsonarismo, calejado por inquéritos como o das milícias digitais, o qual já resultou na prisão de aliados do Executivo que tramaram contra a democracia e tentam se proteger sob o guarda-chuva da liberdade de expressão. “Acredito que, no próximo mandato, o Supremo pensará duas vezes antes de tomar decisões contra a Constituição”, disse a ex-ministra à ISTOÉ, após uma reunião com Bolsonaro e os demais senadores eleitos no Palácio da Alvorada. “Não faremos guerra contra o STF, mas deixaremos claro que entendemos que as instituições têm de ocupar apenas os seus próprios espaços”.
Leia mais em Isto É