Porto Alegre, quarta, 27 de novembro de 2024
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A arte cheia de cores de Britto Velho, um observador atento da humanidade; por Márcio Pinheiro/Jornal do Comércio

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Um dos artistas mais importantes de sua geração, Britto Velho segue ativo e recebendo reconhecimento crescente no mundo da arte. Foto: Luiza Prado/JC
Tudo começa com um desenho. Papel, caneta Bic e qualquer lugar: pode ser um restaurante, um bar, uma praça ou até mesmo dentro de casa. A inspiração é imediata e – ficando ainda vinculado ao exemplo caseiro – esta mesma inspiração pode estar num objeto aparentemente irrelevante, como uma cadeira, ali há tantos anos, mas que a partir daquele momento começará a ganhar uma outra forma. Agora não mais apenas como um objeto e sim como um ser vivo, com cabeça, braços, pernas, orelhas e olhos – às vezes não dois, mas três. O papelzinho do desenho original não se perde. Vai para uma pasta. O que passa para tela, aí sim, se modifica. “Um desenho começa no quadro e, às vezes, não acaba”, explica o artista. Não é abstrato, pois a figura humana é o centro de tudo.
Depois vêm as cores. Elas também já estão ali. Surgem em sonhos, mas se adaptam às formas. A composição nasce da parceria da cor com a forma. Aí nesse momento é preciso ser rígido, espartano. A rigidez, porém, não se subordina a nenhum planejamento, tampouco a qualquer espécie de arrependimento. O desenho quase nunca muda. O que pode ocorrer é a cor ficar ainda mais vibrante. A cor precisa falar.
E se a cor necessita se expressar, quem dá voz a ela é a tela. A tela fala. Com palavras e com clareza. Quando o artista pensa em desobedecê-la, a tela argumenta, insiste, discute. Quando os argumentos cessam, a tela exige. “Uns 20%, eu domino. Os outros 80%, a tela domina”, resigna-se, de forma obediente, o artista.