Em finanças, como na guerra, às vezes tudo o que se precisa é uma boa desculpa para se fazer o que se queria, mas não tinha as condições para tal. Pois bem, acho que a “quase guerra” de Irã com Israel caiu como uma luva para quem queria ajustar suas posições e virar a mão.
Tudo o que aconteceu esta semana e que estressou o Dólar não passam de versões requentadas do óbvio. Vamos aos pontos:
1-) alguém mesmo na Faria Lima acreditava que se iria atingir resultados fiscais relevantes este e no próximo ano? Claro que não.
2-) o mercado nos EUA já havia batido o martelo que os juros não iria cair com tanta força este ano depois dos dados de inflação da semana passada. A quase guerra no fim de semana foi apenas o prego no caixão de cortes mais cedo nos juros por lá.
3-) havia mais que bons motivos para se revisar para cima a SELIC no final do 2024 que os economistas insistiram em deixar em 9% por mais tempo que o razoável. Além da inflação de serviços estar dando todos os recados possíveis desde o ano passado (e por isso mesmo estou com 9,75% há bastante tempo) os gestores já não acreditam em 9% já faz tempo. A quase guerra e o quase fiscal vão ajudar os departamentos a revisarem suas taxas.
Poderia seguir aqui reafirmando o óbvio como as revisões para cima do PIB de 2024 (algo que também já falo desde o ano passado) e como isso força para dentro dos modelos a revisão de outras variáveis, mas isso não é o importante agora. O importante é saber até quando vai essa “inflamação” na moeda referência no mundo; o dólar.
Pois bem, vamos raciocinar. Assumindo que não haja uma guerra em larga escala no Oriente Médio (algo que ninguém quer, nem Netanyahu) é razoável supor que:
1-) haverá uma correção nos juros nos EUA, mas da mesma forma que não se quer a guerra ninguém imagina alta de juros nos EUA, logo o mal-estar no mercado de títulos deve ser rápido com investidores revisando rapidamente suas apostas.
2-) se é verdade que a guerra era a “desculpa” que faltava isso implica dizer que o ajuste deve ser rápido lá fora,
3-) guerra, mesmo essas que não são, mas apenas tensionam, implica commodities para cima ou nos atuais patamares. Levando em conta que o Brasil é superavitário na balança de petróleo e derivados implica dizer que o saldo comercial permanecerá positivo.
4-) sobre balança comercial vale ressaltar que a China não parece tão ruim quanto achavam os analistas há algum tempo.
5-) se os juros no Brasil vão ser “menos menores” (mantenho projeção de 9,75% para a SELIC) isto sugere diferencial de juros mais favorável para o Real.
Todos esses fatores reiteram uma leitura de um Real mais forte até o final do ano.
Se de um lado minha projeção inicial de dólar a R$ 4,30 para o final deste ano (valor pré pandemia) parece distante agora, por outro mantenho a perspectiva de apreciação da moeda local.
É muito caro ficar vendido em reais e num mundo que se acumulam passivos geopolíticos o Brasil pode ganhar por WO.
Economia e finanças são artes retóricas, afinal falamos do futuro e já sabemos bem que o tempo é o último animal selvagem que existe e até agora ninguém dominou este.