Porto Alegre, quarta, 02 de outubro de 2024
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Especialistas da Holanda apresentam relatório com recomendações contra inundações em Porto Alegre

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Crédito: Luciano Lanes / PMPA

 

 

A comitiva de especialistas do Reino dos Países Baixos (Holanda), que esteve no Rio Grande do Sul, em junho, para analisar os locais das recentes inundações na Capital do Estado, apresentou os resultados do relatório elaborado com recomendações concretas para enfrentar o problema. As informações foram detalhadas pelo Conselheiro Institucional da Agência Empresarial Holandesa (Netherlands Enterprise Agency – RVO), Ben Lamoree, chefe da equipe especializada em Adaptação às Mudanças Climáticas Urbanas, Liderança em Complexidade, Recuperação Pós-Desastre, na tarde desta segunda-feira (19), na sede do Dmae, em Porto Alegre. O diretor-geral do Dmae, Mauricio Loss, também participou do encontro com a imprensa e explicou o que está sendo realizado e previsto.

Como resposta de emergência e recuperação de curto prazo, a comitiva holandesa recomenda garantir a disponibilidade da capacidade de bombeamento temporário para emergências, o monitoramento de curto prazo do sistema de diques, possivelmente usando drones especializados e, de preferência, antes do início da estação chuvosa. “Em relação à infraestrutura, nossa recomendação é repor aquilo que foi destruído, e, ao mesmo tempo, considerar outras opções estruturais, pois de acordo com nossa experiência na Holanda, o aumento do nível dos diques tem limite. Então, uma ação complementar que sugerimos é a criação de mais espaço para o rio, à exemplo do programa que temos na Holanda, chamado: Room for the River. Significa ampliar as áreas próximas aos rios, para que eles possam fluir conforme sua vasão, também, incluindo dragagem e a abertura de canais adicionais, quando não existem. Há várias soluções de engenharia que precisam ser investigadas, essa é nossa recomendação”, ressalta Ben Lamoree.

Entre as sugestões de recuperação de longo prazo e adaptação do sistema, estão soluções estruturais e não estruturais para a proteção, que precisam ser exploradas. Em particular, opções para aumentar os níveis de infraestrutura de proteção contra inundações e para reduzir os níveis máximos de inundação ao redor de Porto Alegre. Em termos de medidas estruturais, isso levará a intervenções de infraestrutura muito diferentes. Medidas não estruturais são essenciais, particularmente, a possível adaptação da governança institucional multinível de proteção contra inundações e o alerta precoce e assertivo para a população.

Já as constatações sobre os problemas enfrentados na recente enchente são a de que o sistema de proteção estava frágil e falhou com base em um evento de enchente maior do que o projetado. Entre as falhas técnicas encontradas estão a localização das estações de bombeamento (20 de 23 delas falharam). Elas estão instaladas em um nível muito baixo, por isso, os seus sistemas elétricos foram atingidos pela água e pararam de funcionar. Eles deveriam estar em uma altura bem acima da cota de proteção dos diques.

Outros problemas detectados foram erros técnicos no desenho e na execução dos diques, principalmente na Zona Norte. Além disso, as comportas falharam ou estavam ausentes, causando transbordamento limitado dos diques e das brechas de diques em áreas específicas.

O documento é resultado da visita da comitiva neerlandesa em junho, quando se reuniu com técnicos e representantes dos governos municipal, estadual e federal, incluindo pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para elaborar o documento. O grupo visitou comportas, casas de bombas e diques nas zonas Norte, Sul, Centro e Ilhas para avaliar a estrutura atual do sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre. Os especialistas também conversaram com moradores das regiões afetadas pelas inundações, para saber mais sobre suas realidades e vivências.

A comitiva é formada por especialistas do programa de Redução de Risco de Desastres (Disaster Risk Reduction – DRRS) dos Países Baixos, vinculado à Agência Empresarial Holandesa (Netherlands Enterprise Agency – RVO). As ações são coordenadas pela Rede Diplomática e Econômica Holandesa no Brasil, através da Embaixada, do Consulado Geral de São Paulo e do Escritório Holandês de Negócios na Região Sul do Brasil (NBSO Porto Alegre).

CONFERÊNCIA DE COCRIAÇÃO – No encontro também foi apresentada a programação da conferência de cocriação, que inicia nesta terça-feira (20) e segue até 22 de agosto, no 3º andar do Centro Cultural UFRGS, em Porto Alegre. O governo do Estado e do Reino dos Países Baixos, em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre e a UFRGS, vão realizar três dias de workshops práticos sobre o tema: Repensar o Sistema de Proteção contra Enchentes no Delta Metropolitano de Porto Alegre.

Cerca de 10 especialistas de diversas organizações neerlandesas – acadêmicas, governamentais e privadas – estão no Estado para discutir com profissionais do Rio Grande do Sul e de outras partes do Brasil. O resultado de cocriarão será prático e de uso direto para os esforços na construção de um sistema resiliente de proteção contra inundações.