Como está a relação entre a transmissão de vírus respiratórios e as variações climáticas em países subtropicais ao final da pandemia por covid-19? A questão foi o ponto de partida de um estudo conduzido por pesquisadores do Hospital Moinhos de Vento, que coletaram dados de pacientes da instituição entre 2022 e 2023 – incluindo o período antes e depois de a Organização Mundial de Saúde ter declarado o fim da crise sanitária. Conforme o trabalho, a associação existe, mas é menor do que se esperava.
A análise foi feita a partir dos resultados de painéis respiratórios – exame capaz de detectar material genético de 24 patógenos. De acordo com o levantamento, os vírus mais comuns nesse período de transição da pandemia foram o rinovírus – causador do resfriado comum –, e o vírus sincicial respiratório – rotineiro em crianças até dois anos e idosos. Ambos tiveram uma correlação com o clima frio e úmido, porém ela foi classificada como muito fraca ou fraca. Outras variáveis, como retorno às aulas, parecem ter impactado mais na sazonalidade desses agentes infecciosos.
Adicionalmente, observa Sérgio Renato da Rosa Decker, médico do Serviço de Medicina Interna e pesquisador do Hospital Moinhos de Vento e do Smith Center, nos Estados Unidos, o vírus causador da covid-19 segue no sentido oposto aos demais, e com taxa de correlação ainda menor, ou seja, é mais neutro a alterações climáticas.
Embora existam pesquisas semelhantes, até agora poucas avaliaram a transmissão de vírus respiratórios em regiões de clima subtropical. “Esse é um dos grandes diferenciais do trabalho, principalmente, no contexto do aquecimento global. Essa relação tende a aparecer cada vez mais em países de clima temperado, que passarão a se comportar como as regiões de clima subtropical. Isso acaba impactando diretamente em políticas públicas de prevenção”, avalia.
“Ao todo, foram incluídos 3.322 testes, dos quais 47% eram de pacientes mulheres e com pacientes de diversas faixas etárias. A taxa de positividade dos patógenos testados foi de 71,6%, sendo os mais prevalentes o sincicial respiratório (21,6%) e o rinovírus (17,2%). A positividade para influenza foi de 5,9% e de SARS‐CoV‐2 (causador da COVID-19), de 4,4%”, destacou o superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, Luiz Antonio Nasi.
Com o título “Tendências temporais em patógenos respiratórios após a pandemia de COVID-19 e variáveis climáticas: uma avaliação retrospectiva unicêntrica de 24 patógenos em uma região subtropical temperada”, o estudo foi publicado no Journal Medical Virology e pode ser acessado neste link.