Porto Alegre, sábado, 23 de novembro de 2024
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Artigo: A eleição de Trump e o Brasil; por Sergio W. Etchegoyen*

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Foto: Chip Somodevilla/Getty Images

 

 

Já vimos farta quantidade de democratas e republicanos se revezarem na presidência dos EUA. Fomos a duas guerras mundiais com Woodrow Wilson e depois Roosevelt, rompemos o Acordo Militar com Carter e nos negamos a participar do conflito das Coreias a pedido de Truman, todos democratas.

Convivemos com a política do Big Stick de Ted Roosevelt, sofremos as crises do petróleo, nossas recorrentes dificuldades econômicas, incluída a quebra da década de 1980, nos mandatos de Gerald Ford, Reagan e dos Bush, todos republicanos.

As guerras nos custaram caríssimo, naquela época tínhamos diplomacia verdadeiramente altiva e pagamos cada tiro disparado, cada curativo aplicado. Desnecessário comentar as perdas e consequências do default e dos cíclicos tropeços econômicos.

Ao longo dos 135 anos de República que comemoraremos na próxima semana, tudo o que conquistamos foi exclusivamente pelos nossos esforços. A maior ajuda norte-americana foi, quando lhes soou conveniente como potência dominante na maior parte deste período, não atrapalhar. Em outras importantes ocasiões, atrapalhou, bloqueou e prejudicou bastante. Fomos leais aliados nos dois grandes conflitos do século passado, integramos o bloco ocidental liderado pelos EUA na Guerra Fria e permitimos que suas disputas fratricidas dividissem nossa sociedade, rompessem amizades, desagregassem famílias, destruíssem nosso sistema de educação e produzissem clivagens que persistem ainda hoje e sustentam narrativas e crenças emboloradas e falidas por onde quer que tenham sido experimentadas.

Nossa postura não nos concedeu privilégios nas relações bilaterais, Washington jamais a sobrepôs aos seus interesses. Por muito tempo, nossa política externa entendeu isso, navegou com competência entre os obstáculos e em momento algum cedeu ao discurso ridículo do antiamericanismo juvenil.

Nada permite acreditar que com Trump ou Kamala seria diferente.

Há uma obviedade incontornável: Trump é uma escolha dos americanos para defender os interesses de seus eleitores, não os nossos. Quanto às repercussões na segurança mundial, a instabilidade está posta há muito e Trump pouquíssimo tem a ver com a instabilidade global de hoje.

O que podemos fazer é o de sempre, trabalhar e fortalecer o Estado brasileiro para assegurar nossos interesses e dissuadir eventuais ameaças. O resto é torcida à distância, passiva, sem a mínima possibilidade de interferir no resultado.

Neste campo, a torcida, o que sobrou foi, mas uma vez, a desmoralização de ativistas renitentes da desinformação que habitam algumas redações. Os fatos são eloquentes denúncias do quanto a verdade sofreu nos contorcionismos intelectuais de estrelas globais e afins.

1) A impressionante performance negativa da Kamala, que à véspera virava o jogo na projeção de alguns conhecidos especialistas.
2) A rapidez com que Trump atingiu o número de delegados necessários e sua robusta vitória em todos os 7 estados pêndulos.
3) Trump conquistou uma vitória dupla, deve terminar com quase 90 delegados e 5 milhões de votos a mais.
4) Kamala não teve mais votos que Biden em nenhum distrito eleitoral do país.
5) 55% dos mais jovens, os first time voters, escolheram Trump contra os 62% a favor do Biden em 2020.
6) 1 em cada 3 negros votou no Trump, a melhor performance de um candidato americano desde Bush.

Como consequência imediata, o resultado da eleição anima a direita por aqui e deixa o governo numa sinuca de bico.

O presidente Lula tomou partido e dedicou comentários ofensivos e desrespeitosos a Trump, cuja possibilidade de vitória qualificou, segundo a Folha de São Paulo, como “nazismo com outra cara”.

*Sergio W. Etchegoyen,, General da Reserva

Sem levar em conta que nossa política externa, provavelmente inspirada no antiamericanismo de grêmio estudantil de Celso Amorim, é claramente provocativa aos EUA, próxima a regimes reconhecidamente totalitários, intolerantes e violadores dos direitos humanos.

A ridícula tribo woke, a esquerda radical e o antidireitismo incondicional experimentarão um longo período de insônia.

O Brasil dependerá ainda mais do nosso esforço e capacidade de encontrarmos nossos próprios caminhos.

Teremos mais diversão pela frente.