Porto Alegre, domingo, 06 de outubro de 2024
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Antes impensável, aliança entre Lula e Centrão começa a ganhar força, por Daniel Pereira  e Marcela Mattos/Veja

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Depois de seis meses de uma relação marcada por embates, o Planalto e os parlamentares do grupo articulam elo político que pode ser decisivo para o país. SER OU NÃO SER - Lula e Lira: o governo aposta que consegue atrair congressistas de centro com verbas e mais cargos no primeiro escalão (Gabriela Biló/Folhapress/.)

 

 

Com raras exceções, não há adversário na política que não possa, com o passar do tempo, tornar-se um aliado. Na campanha de 2018, o candidato Jair Bolsonaro  demonizou o Centrão, grupo ao qual se rendeu incondicionalmente, já como presidente da República, para garantir um mínimo de estabilidade a seu governo. A parceria deu certo, e hoje o capitão está filiado ao PL, partido de Valdemar Costa Neto, expoente da velha política que Bolsonaro tanto prometeu aos eleitores que combateria. Lula também é um especialista na arte da conciliação. Em seus tempos de oposição, ele chamou José Sarney de ladrão, mas anos depois, quando dava expediente no Palácio do Planalto, disse que o ex-presidente — que o ajudava a domar o então influente MDB — não podia ser tratado como uma pessoa comum. Do então tucano Geraldo Alckmin, Lula ouviu poucas e boas no campo da ética durante anos, o que não o impediu de compor com o antigo rival, que agora é vice-presidente da República. Não há  animosidade que resista ao pragmatismo dos políticos. Sem qualquer tipo de constrangimento, o ataque desferido hoje dá lugar a um abraço fraternal amanhã. É tudo uma questão de conveniência — ou de necessidade.

A arrastada negociação entre Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é mais uma prova de que quase não há diferenças incontornáveis nessa seara. Os dois estiveram em campos opostos na corrida presidencial passada, não têm relação de amizade e não nutrem simpatia pessoal um pelo outro. A desconfiança impera de lado a lado. Apesar disso, estão cada vez mais próximos de selar uma aliança que pode render dividendos a ambos. Se conseguir compor com Lira, o presidente da República espera incorporar à sua base o Centrão e a massa de deputados liderada pelo comandante da Casa, que é o parlamentar mais poderoso do país. Há menos de um ano, um acerto desse tipo parecia difícil, considerando-se as declarações dadas na época. Na campanha de 2022, Lula disse, por exemplo, que, se ganhasse a eleição, daria um jeito no Centrão e afirmou que Lira agia como se fosse o imperador do Japão. A tensão entre as partes ainda persiste, mas está perdendo força de forma gradativa. Desde o início do mandato do petista, Lira repete que a articulação política do governo é falha e que a base aliada na Câmara está desorganizada. Ele sempre defendeu, como solução para o problema, o receituário tradicional — distribuição de cargos e recursos pedidos pelos congressistas.

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