Quando o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou sua homossexualidade durante entrevista concedida a Pedro Bial, havia na declaração ao menos duas razões que permitem entender o episódio como político.
A primeira remete a um mote de luta conhecido entre militantes LGBTQIA+: toda saída do armário é um ato político. Para que pessoas LGBTQIA+ pudessem se reconhecer em identidades como gay, lésbica, bissexual, trans e travesti, foi necessário antes afirmar politicamente cada uma dessas categorias. O ato de se assumir de certa maneira recompõe até hoje a mesma lógica da afirmação sexual que fundou o movimento homossexual brasileiro: para existir, é preciso estar visível.
Já a segunda razão deriva de um contexto mais recente. Foi possível acompanhar nos dias seguintes à declaração uma proliferação de posicionamentos favoráveis e contrários à atitude de Leite, que iam das direitas às esquerdas.
Enquanto alguns consideravam corajosa a decisão do chefe do Executivo de um estado que havia demonstrado nas urnas em 2018 sua preferência por Jair Bolsonaro, outros criticavam justamente o fato de ter sido Leite um importante apoiador da campanha do atual presidente, mesmo quando já era de conhecimento público o uso político da perseguição a pessoas LGBTQIA+ de que se valia então o candidato do PSL.
Para que Leite pudesse se assumir hoje como governador gay, o que foi necessário ter acontecido antes?
Há 40 anos, tal declaração seria impraticável. Os discursos mais difundidos em torno da homossexualidade ainda a definiam como doença, desvio moral ou pecado. O preconceito e a discriminação contra pessoas LGBTQIA+ estavam presentes tanto em práticas cotidianas como em violações do Estado, responsável pela perseguição e pelo desaparecimento de ativistas homossexuais durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).
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